Termina hoje a paralisação nacional deflagrada na Rede de ensino pública ( 19/03), todas unidades pública de ensino estiveram exatamente como a maioria encontra-se, "abandonada"; ou seja sem a presença dos seus efetivos professores; digo efetivos por que, algumas continuaram funcionando precariamente ainda devido aos milhares de estagiários que recebem salários irrisórios para preencher um espaço já caótico. Também, ao ler os jornais, você nada encontrou de matéria relevante, afinal, qual importância há que os professores lutam a décadas por um valorizar que chega quase em "contra-gotas?
Por parte do governo a sociedade não teve e não terá explicações, afinal, quase todos os alunos receberam tablets, material, merenda e até estão sendo enviados para fazerem intercâmbio. Por outra, nossos gestores se manterão em pleno silêncio, uma vez que, não conseguem explicar os altos índices de analfabetos funcionais, o processo de maquiagem que alguns estabelecimentos de ensino recebem enquanto outros nem água dispõem. Na verdade, hoje o governo do estado mostrou-se presente sim, nos principais jornais locais foram impressos dois cadernos prestando conta (campanha mesmo) o quanto Pernambuco avançou.
Encontrar uma justificativa aceitável para paralisação que tem início esta semana não parece difícil, principalmente se buscarmos estudos acadêmicos, livros publicados e congressos veremos que, desde início do século XIX a nossa imprensa registra mobilizações dos professores por melhorias que ainda hoje e não foram devidamente atendidas por aqueles que deveriam gestar nosso Sistema educacional.
Inicialmente, selecionei o artigo publicado na Revista da faculdade de Letras / Portugal, estudo onde as autoras conseguem ainda em 2005 apresentar o nível de visibilidade que o professor estaria enfrentando não só naquele ano como nos dias atuais. Em seguida resgatei para estudo trechos da dissertação do Daniel Cavalcanti (UFMG - 2011) e aproveitei apenas para destacar alguns trechos bastantes atuais e que respondem de forma mais clara o descaso com o ensino brasileiro que ocorria ainda no período Imperial e não solucionada nos dias atuais.
Por fim caros colegas e também professores, tomei a liberdade de colocar apenas como provocação um carta publicada ainda este mês no jornal Diário de Pernambuco e que, guardando a devida dimensão sintetiza o elo histórico que marca o descaso ao ensino público brasileiro. Portanto, antes de ficar irritado por não ter onde deixar seu filho, por não ter para onde ir no dia de hoje, por acreditar que os nosso governantes já fizeram demais, pare e veja o que realmente falta e desde de quando a sociedade clama por uma POLÍTICA EDUCACIONAL séria e efetiva. A atual paralisação nacional não é um dia para ficarmos desmobilizados. Hoje é o dia em que Sociedade Civil e todos que zelam por uma educação séria e de qualidade exija com mais força do nosso governador, da presidenta que façam valer direitos e destinação dos recursos (que por sinal só faz crescer) de uma forma planejada e não visando apenas projetos eleitoreiros.
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"Em seu primeiro relatório, o inspetor da instrução Eusébio de Queiroz afirmou ser fora de dúvida que o aperfeiçoamento da instrução pública dependia em grande parte da “inspeção intelligente, regular e activa dos seus diversos estabelecimentos”. Eusébio alegava que os professores poderiam “deixar-se dominar pelo espírito de rotina e pela indolência” quando estivessem longe da “ação da autoridade superior”. Diante de tais observações, Eusébio defende a presença de autoridades que, ao exercerem “uma inspecção immediata sobre o ensino, animem o professor na árdua tarefa a que se dedicou, o aconselhem, o guiem, e o advirtão para que se não desviem do caminho que lhes dicta o dever” (p.3). Em relatório posterior, relativo ao ano de 1857, ao reivindicar o auxílio dos párocos na inspeção das escolas, o inspetor reitera a necessidade do professor sentir-se sob vigilância". P.49.
O
ministro segue em seu relatório ressaltando a importância do ensino
obrigatório, alertando
que ele só será realidade quando for possível enviar os filhos às escolas: “quando
existão effectivamente em lugares, onde possão commodamente ser freqüentadas” (ibidem).
O relatório trazia, assim, junto com a falta de escolas, um outro problema: a
falta de prédios apropriados para receber essas escolas. P.63
Muitas
vezes os professores submetidos a espaços inapropriados pediam a transferência
do local da escola, utilizando argumentos higiênicos, como no caso do professor
da 2a cadeira da Freguesia da Lagoa, que solicitava a mudança da escola, pois,
segundo o
professor,
a casa que a escola ocupava era úmida e tinha sido prejudicial à sua saúde e à
de sua família; isso, inclusive, o impediu de dar aulas, pois, devido às
condições insalubres da escola, o professor fora acometido por febres que o
levaram à cama.
Nesse
caso, o ministro se refere à escola construída na Freguesia da Glória. Contudo,
essa iniciativa não é unanimidade entre os professores, que sempre pediram a
construção de espaços apropriados, mas que viam, nessas construções da década
de 1870, a construção de verdadeiros Palácios, enquanto o professor era deixado
na miséria.
Estas
eram duas questões que estiveram nos debates do início da década de 1870, a
questão salarial e a crítica à construção dos modernos edifícios escolares, os
“palácios”, como foram conhecidos na época que tiveram suas construções
financiadas com fundos do Governo Imperial, da Câmara Municipal e de
Associações Promotoras do Ensino e de Beneficência. P.75
O
ataque aos professores e à sua capacidade era usado para mascarar toda uma
série de falhas estruturais na educação e no funcionamento do Estado.
Respondendo a esses ataques do Ministro dos Negócios do Império, alguns
professores primários reuniram-se na
Corte e redigiram um Manifesto ao Imperador e ao Ministro João Alfredo. O
relator desse manifesto era ninguém menos que o professor Frazão. Nesse
manifesto, os professores reclamavam da situação de penúria a que estavam submetidos,
comparando seu estado com o dos escravos, e levando à dedução de que o governo
seria o “grande feitor”.
P.111
LEMOS, Daniel Cavalcanti. Professores
em movimento: A Emergência do associativismo docente na Corte Imperial Tese
doutorado UFMG – 2011.
Os professores formam um cluster profissional que deixou de usufruir de uma reputação social elevada (ainda que se reconheça, globalmente a importância da missão que desempenha) pelo que, como a imagem social interfere na escolha da profissão, se assiste nesse momento a um processo de inferiorização do professorado".
Rosa Bizarro e Fátima Braga. Revista da Faculdade de Letras, Porto. 2005
DP -06/03/2014 - B4
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