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terça-feira, 11 de março de 2014

Devemos comemorar os 477 anos do Recife?


      Mais um ano, novas comemorações e praticamente os mesmos problemas. A cidade do Recife em especial, é cantada e declamada nos velhos tempos. Será que ainda podemos dizer em que " Em minha terra tem palmeiras...."? Afinal, o que tem feito o secretário Danilo Cabral  e o projeto de mobilidade da avenida Caxangá e Agamenon Magalhães? Quase todas as nossa palmeiras imperiais foram arrancadas. E cantar? Será que Recife tem encantos mil?
    Pois bem, fazendo um resgate nas produções acadêmicas cito um trecho do livro A construção da Verdade autoritária, escrita em 2001 e de autoria da professora e pesquisadora Graça Ataíde. A pesquisadora procura assim retratar o Recife na década de 30, tendo como destaque o período de Interventoria de Agamenon Magalhães 1937-1945. 
     No capitulo III, em nome da modernidade, a leitura nos possibilita "enxergarmos" um pouco do que era a cidade do Recife na primeira metade do século XX:

1 -"Umas das metas da Interventoria Agamenon Magalhães consistia em erradicar tudo que simbolizasse o velho..."  2 - Neste sentido, uma das primeiras medidas da Interventoria foi formular um plano de remodelação da cidade segundo o qual a miséria - em todas as nuances - deveria ser extirpada, porque por ela se expressava o retrato da feiúra de Recife". p.126

3 - " A medida que o Recife se modernizava e se higienizava, tornou-se preocupação constante da Prefeitura o controle dos passeios turísticos". p.132.
4 - "Tornou-se comum a prisão de turistas que ousavam fotografar locais proibidos, tidos como ambientes "feios e sem higiene...". p.134

Fonte: Google


         Ou será que devemos manter vivas as primeiras discrições feitas por Henry Koster ainda em 1809? Na obra Viagens ao Nordeste do Brasil o viajante inglês apresentava a visão mais que "primitiva" de uma vila que já nascera grandiosa. Cita o "Henrique Costa" :

"Ainda era meio dia. O mar estava calmo. O sol brilhava com todo seu esplendor, e tudo que nos cercava tinha um aspecto agradável. Todas as casas eram branqueadas a cal.  O sol, ferindo-as com seus raios, dava-lhe um brilho faiscante".p.65
"Não se encontra no Recife e Olinda albergues nem casas de cômodos, um amigo do meu companheiro de viagem procurou imediatamente alguns quartos e nos forneceu cousas de que tinhamos necessidade. Eis-nos, portanto, tranquilamente instalados em nossa nova residência, tão tranquilamente como possa estar alguém quando uma vintena de negras grita sob a janela, em todo os tons de que a voz humana é capaz, laranja, banana, doces e outras mercadorias para vender". p.67

         Pois bem, voltando aos dias atuais sabemos sim que tivemos avanços, no entanto as iniciativas adotadas são muitos pontuais e por vezes atendem setores econômicos, e ao que deveria, não atende os setores sociais.
      No campo do transporte público basta você fazer uma pesquisa nos jornais dos anos 70 e 80 e as matérias dos jornalistas já apontavam estudos de especialistas para o crescimento da frota de veículos, o sucateamento do transporte público.
     Quanto ao comércio e a decadência do centro do Recife? Não é novidade que já nos anos 90 tivemos tentativas fracassadas de requalificação do comércio, porém, com o "advento" dos shoppings o distanciamento dos nossos gestores para as principais vias foi cada vez maior.
    E os morros? Historicamente, a ocupação da Zona Norte e áreas de morros ganhou força  as durante as gestões de Agamenon e de Augusto Lucena; viver nas áreas centrais era "crime" a nova estética pensada. No mais, Meio ambiente, educação, habitação e esportes ficaram em segundo plano.
    Talvez então você diga, finalmente hoje a cidade é pensada para as pessoas! será?
 Que contribuição real o projeto "Novo Recife" trará para o conjunto da população que transita pelos bairros de São José e Santo Antônio? e o incentivo de utilização das bicicletas? Quanto realmente custou e que classe econômica é beneficiada quando trechos são praticamente interditados para um trânsito já precário? e que grupo é prejudicado por esta muitas vezes naquele momento em deslocamento para o trabalho? Afinal, o que nossos gestores querem dizer mesmo ao classificar o ato de transitar a noite sob escolta dos guias municipais de "Pedalada do bem"? E que pedala suas magrelas pela manhã? É do mal?
      Ao acompanhar os festejos dos 477 anos da cidade do Recife bem que gostaria de apenas parabenizar, no entanto, não suportaria esconder realidades que teimam em bater a minha consciência toda noite que tento adormecer. E de quem é a culpa? A resposta eu prefiro que você construa e envie para postagem no nosso blog.

Parabéns Recife e recifenses; Parabéns Olinda e olindenses.




Créditos: Cícero Souza ( acervo pessoal)











Livros consultados : 

* Koster, Henry. Viagens ao nordeste do Brasil. Recife: Fundaj, Ed. Massangana. 2002.
* Almeida, Maria das Graças Andrade  Ataíde de. A construção da verdade autoritária. São Paulo: Humanitas, 2001.


Cícero Souza - Pesquisador do acervo DOPS.

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