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sábado, 15 de julho de 2023

O meu herói

(Gilberto Araújo e sua esposa. Acervo pessoal Fred Carvalho).

"Quando morreu tinha a patente de 2° tenente do Exército, por haver sido da FEB, na 2a Guerra Mundial."

        Via indústria cinematográfica aprendemos que devíamos ao final do filme conhecer e termos os nossos heróis; assim surgiam na minha imaginação: Jonh Weyne, Django, Zorro, Batman, Ultraseven, Super Man, James Bond ou tantos outros. Aos meus netos temos os heróis mais atuais como Lanterna Verde, Arqueiro ou heroínas como Shena e Mulher Maravilha.

    Na escola, por sua vez, em tempos passados nos ensinaram que também nosso país tem seus heróis e assim fomos conhecendo (mesmo que superficialmente) a história de D. Pedro I, Princesa Isabel, o Duque de Caxias e por alguns momentos figuras pouco abordadas como de Zumbi, João Cândido. Foram muitos heróis estudados na escolas e que muitas vezes fizeram parte de nossas capas de atividades escolares ou mesmo nossa imaginação. Como será que eles fizeram isso? Será que foi assim mesmo? E eles fizeram tudo aquilo sozinho? Foram perguntas que também nos perseguiam.

    Pois bem, a História é encantadora quando vista também do prisma mais particular, ou como escrevia Hosbsbawm, a partir  das  "pessoas extraordinárias". Não por sua composição social, privilégios, articulações mas muitas vezes pela sua atuação no "espaço micro" e ali mesmo fazer toda uma diferença.

"Eles são tão grandes quanto você e eu. Suas vidas tem tanto interesse quanto a sua e a minha, mesmo que ninguém tenha escrito sobre ela. O que eles realizam e pensam faz a diferença. Pode mudar, e mudou, a cultura e o perfil da História, e mais do que nunca no século XX."

(Hobbawm, Eric. Pessoas extraordinárias. 1998, p.7/8)

        Portanto, o texto de hoje que segue logo abaixo foi escrito pelo nosso amigo e leitor Fred Carvalho que faz uma linda homenagem ao nascimento do seu pai e herói. O texto é carregado além de uma verdadeira emoção por um preenchimento de memória, valorização ao vivido e as heranças deixadas.

        Explore as músicas, vídeos, imagens e a sutileza de um texto escrito com muitas recordações mas, principalmente muito amor.

"Naquela mesa ele juntava gente e contava contente o que fez de manhã. E nos seus olhos era tanto brilho que, mais do que seu filho eu fiquei seu fã."

(Naquela mesa. Nelson Gonçalves)

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        Há exatos 100 anos nascia Gilberto Araújo Carvalho, meu pai. Uma figura que entendeu como poucos o verdadeiro significado desta aventura chamada vida. Humildade, simplicidade e imensa solidariedade ao próximo foram o norte dos seus anos conosco. 

        Médico por vocação, fiel seguidor do Juramento de Hipócrates, exerceu sua profissão entre 1947 a 1993, sempre privilegiando os menos favorecidos nos órgãos públicos de saúde em que trabalhou. Nunca colocou ganhos financeiros na sua trajetória. 

    Quando morreu tinha a patente de 2° tenente do Exército, por haver sido da FEB, na 2a Guerra Mundial.  Soube aproveitar muito bem sua vida, como a intensa boêmia recifense na juventude, além de adorar qualquer tipo de refeição e idolatrar suas inseparáveis cervejas, servidas em bares da cidade. 

        Remador emérito do Náutico  e, consequentemente da seleção pernambucana, contribuiu para a grandeza do Timbu nesse esporte. 

(Gilberto Araújo - primeiro remador - na época da equipe de Remo do Náutico. Acervo pessoal Fred Carvalho).

  Também, exatos 73 anos, perdíamos a Copa do Mundo 1950, em pleno Maracanã, perante quase 200 mil torcedores. Meu pai estava lá, assim como inúmeros pernambucanos que deslocaram-se ao Rio de Janeiro para testemunhar essa derrota. Mas, inegavelmente, o Santa Cruz foi a maior paixão da sua vida. Alucinado pelo tricolor do Arruda, conseguiu transferir pra mim, meus três filhos e, até agora meus quatro netos essa verdadeira loucura que é amar o Clube do Povo.

   Indiscutivelmente, a maior homenagem que lhe foi tributada, partiu de uma servidora civil do Exército, quando priorizou seu atendimento no quartel, dizendo: "jamais poderia deixar Dr. Gilberto aguardando na fila, afinal de contas, foi anestesista no parto de meus três filhos, dedicando-me sempre uma atenção especial." Fato que pude comprovar com dezenas de amigas da região dos morros de Casa Amarela, que tiveram dele a mesma atenção e carinho, sem desejar algo em troca.

        Pra mim, estupefato, bastou como a síntese de quem foi meu pai. 

        Parabéns, grande amigo e pai!

(Autor- Fred Carvalho - Bairro do Espinheiro) - 09/07/2023.


Para assistir:

Mundão do Arruda - erguido pelo povo.

Uniformes militec - PE (FEB da 2ª Guerra)

Unboxing - Uniformes da FEB

Áudios inéditos da BBC com pracinhas brasileiros.

Brasil 1x2 Uruguai (Final da Copa de 1950)

Para ler:
Obsbawm, Eric. Pessoas extraordinárias (resistência, rebelião e Jazz). Paz e Terra. 1998.

Bosi, Ecléa. Memória e sociedade - lembranças de velhos. São Paulo: USP, 1979.

Para ouvir:
Naquela mesa (Nelson Gonçalves / Zeca Pagodinho)

Cícero Souza
Pesquisador 
Professor  ETE - Ginásio Pernambucano
(Governo do Estado de Pernambuco - SEE)
Mestre Ciência da Educação (Universidade Lusófona Humanidades Tecnologia -ULHT- Lisboa/Portugal)

Doutorando Ciência da Educação (Universidade Nacional de Rosario - UNR/ Argentina)





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