(Gilberto Araújo e sua esposa. Acervo pessoal Fred Carvalho).
"Quando morreu tinha a patente de 2° tenente do Exército, por haver sido da FEB, na 2a Guerra Mundial."
Via indústria cinematográfica aprendemos que devíamos ao final do filme conhecer e termos os nossos heróis; assim surgiam na minha imaginação: Jonh Weyne, Django, Zorro, Batman, Ultraseven, Super Man, James Bond ou tantos outros. Aos meus netos temos os heróis mais atuais como Lanterna Verde, Arqueiro ou heroínas como Shena e Mulher Maravilha.
Na escola, por sua vez, em tempos passados nos ensinaram que também nosso país tem seus heróis e assim fomos conhecendo (mesmo que superficialmente) a história de D. Pedro I, Princesa Isabel, o Duque de Caxias e por alguns momentos figuras pouco abordadas como de Zumbi, João Cândido. Foram muitos heróis estudados na escolas e que muitas vezes fizeram parte de nossas capas de atividades escolares ou mesmo nossa imaginação. Como será que eles fizeram isso? Será que foi assim mesmo? E eles fizeram tudo aquilo sozinho? Foram perguntas que também nos perseguiam.
Pois bem, a História é encantadora quando vista também do prisma mais particular, ou como escrevia Hosbsbawm, a partir das "pessoas extraordinárias". Não por sua composição social, privilégios, articulações mas muitas vezes pela sua atuação no "espaço micro" e ali mesmo fazer toda uma diferença.
"Eles são tão grandes quanto você e eu. Suas vidas tem tanto interesse quanto a sua e a minha, mesmo que ninguém tenha escrito sobre ela. O que eles realizam e pensam faz a diferença. Pode mudar, e mudou, a cultura e o perfil da História, e mais do que nunca no século XX."
(Hobbawm, Eric. Pessoas extraordinárias. 1998, p.7/8)
Portanto, o texto de hoje que segue logo abaixo foi escrito pelo nosso amigo e leitor Fred Carvalho que faz uma linda homenagem ao nascimento do seu pai e herói. O texto é carregado além de uma verdadeira emoção por um preenchimento de memória, valorização ao vivido e as heranças deixadas.
Explore as músicas, vídeos, imagens e a sutileza de um texto escrito com muitas recordações mas, principalmente muito amor.
"Naquela mesa ele juntava gente e contava contente o que fez de manhã. E nos seus olhos era tanto brilho que, mais do que seu filho eu fiquei seu fã."
(Naquela mesa. Nelson Gonçalves)
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Há exatos 100 anos nascia Gilberto Araújo Carvalho, meu pai. Uma figura que entendeu como poucos o verdadeiro significado desta aventura chamada vida. Humildade, simplicidade e imensa solidariedade ao próximo foram o norte dos seus anos conosco.
Médico por vocação, fiel seguidor do Juramento de Hipócrates, exerceu sua profissão entre 1947 a 1993, sempre privilegiando os menos favorecidos nos órgãos públicos de saúde em que trabalhou. Nunca colocou ganhos financeiros na sua trajetória.
Quando morreu tinha a patente de 2° tenente do Exército, por haver sido da FEB, na 2a Guerra Mundial. Soube aproveitar muito bem sua vida, como a intensa boêmia recifense na juventude, além de adorar qualquer tipo de refeição e idolatrar suas inseparáveis cervejas, servidas em bares da cidade.
Remador emérito do Náutico e, consequentemente da seleção pernambucana, contribuiu para a grandeza do Timbu nesse esporte.
Também, exatos 73 anos, perdíamos a Copa do Mundo 1950, em pleno Maracanã, perante quase 200 mil torcedores. Meu pai estava lá, assim como inúmeros pernambucanos que deslocaram-se ao Rio de Janeiro para testemunhar essa derrota. Mas, inegavelmente, o Santa Cruz foi a maior paixão da sua vida. Alucinado pelo tricolor do Arruda, conseguiu transferir pra mim, meus três filhos e, até agora meus quatro netos essa verdadeira loucura que é amar o Clube do Povo.
Indiscutivelmente, a maior homenagem que lhe foi tributada, partiu de uma servidora civil do Exército, quando priorizou seu atendimento no quartel, dizendo: "jamais poderia deixar Dr. Gilberto aguardando na fila, afinal de contas, foi anestesista no parto de meus três filhos, dedicando-me sempre uma atenção especial." Fato que pude comprovar com dezenas de amigas da região dos morros de Casa Amarela, que tiveram dele a mesma atenção e carinho, sem desejar algo em troca.
Pra mim, estupefato, bastou como a síntese de quem foi meu pai.
Parabéns, grande amigo e pai!
(Autor- Fred Carvalho - Bairro do Espinheiro) - 09/07/2023.
Para assistir:
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