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sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Feche a jaula e tranque aquele "animal"

"Quantos amigos perdi, quantas pessoas "matei" ao proferir palavras fedidas, ao destilar um ódio que não sabia existir em mim."

        Hoje desejo apenas refletir e entender como chegamos enquanto sociedade até aqui e principalmente na situação que se apresenta. Soltamos "a fera" que existia lá dentro de cada um de nós e que mantínhamos  sob controle por longo e longos anos. Quantos amigos perdi, quantas pessoas "matei" ao proferir palavras "fedidas" ou, ao destilar um ódio, que não sabia existir em mim. Mas,  quando e como tudo começou? 

    Entre os anos de 1964 a 1985 meus pais, avós e outros parentes viveram um tempo sombrio em que grupos de militares (Forças Armadas) aliados a pequenos grupos de empresários "ocuparam postos de comando" do país e, em nome da democracia, impetraram medidas econômicas, políticas, sociais e principalmente repressivas. Meus pais vivenciaram cada momento e viram "sair das jaulas" trogloditas que "guardados" sob a tutela do Estado usaram de atrocidades que ficaram marcadas nas mentes, corpos e porque não dizer também arquivadas nos acervos de documentos da repressão sob guarda do próprio Estado. 

"nunca deixaram que a "fera" indomável ganhasse força para agir pautada na maldade;"

    Meus pais viram e viveram mas nunca deixaram que a "fera" indomável ganhasse força para agir pautada na maldade contra o seu próximo; eles mudaram uma ordem de um Brasil e buscaram entregar para mim uma sociedade melhor sem matar (mesmo metaforicamente) seu vizinho, seu parente ou ao seu amigo.

    1984 o movimento "Diretas já" ganhava as ruas e mesmo com a derrota da Emenda Dante de Oliveira o Brasil voltou ao processo democrático e os generais-ditadores que ao longo dos 21 anos que ocuparam todas as esferas das instituições "deixaram" o país respirar (pelo menos imaginava assim até termos o cenário atual). Meus pais receberam um Brasil mergulhado numa inflação galopante, educação deteriorada, segurança quase esgotada mas, meus pais resistiram e dominaram o "animal" que existia dentro de si. Feche a jaula e tranque aquele "animal"

"O ódio e os interesses pessoais daqueles que ocupam o poder estimulam atos de violência física ou mesmo verbal, jornais publicam caos e assassinatos.."

     Entre os anos de 1989 a 2002 o Brasil vivenciou vários pleitos eleitorais dos quais, em todos eles, eu disse em todos eles contou com a presença da Esquerda contra a Direita e nunca tivemos qualquer acontecimento marcado por violência extremada ou estímulo para atos semelhantes. O pleito de 2002, do qual a Direita (na época PSDB) perdeu, o processo foi perfeito chegando o momento em que o presidente derrotado (Fernando Henrique - PSDB) passou a faixa ao seu opositor e agora presidente eleito (Luiz Inácio Lula da Silva - PT). Em 2002 foi assim e não ocorreu um único episódio grave de violência física e a tão esperada transição entre os líderes foi perfeita e pautada na melhor contribuição para todo os brasileiros.

E hoje, a que ponto chegamos?

    O ódio e os interesses pessoais daqueles que ocupam o poder estimulam atos de violência física ou mesmo verbal, jornais publicam caos e assassinatos e no dia-dia as pessoas não conseguem mais conversar ou no mínimo ouvir e respeitar a opinião do próximo. A que ponto chegamos!

        Exatos quatro anos  que a intolerância ganhou dimensão e lugar cativo nas ruas, nos lares, nas escolas, nos espaços de trabalho e lazer. A que ponto chegamos!

"Não temos a bastante tempo um Ministro da Educação, da Cultura, da Saúde, do Trabalho, da Juventude e com isso não temos uma política voltada para a maioria da população pobre das periferia. É esse o país que você deseja que continue?"

        Nas próximas horas vamos nos dirigir até as locais de votação para eleger "nossos representantes" (será que nos representam?) e precisamos refletir qual modelo de sociedade e civilidade desejamos deixar aos nossos filhos. Ódio, intolerância, desrespeito as mulheres, ao saber científico e a fé não pode e não devem ser heranças que marquemos aos nossos filhos e demais jovens. Feche a jaula e tranque aquele "animal".

    Triste perceber jovens de 16 anos verbalizando um discurso "doentio" que nossos pais e avós ouviram passados mais de 60 anos. Somos responsáveis pelo país que nossos jovens vivenciam hoje. Foi nossa intolerância, arrogância, revanchismo e despolitização que colocou nas costas de uma juventude atual o Brasil destruído que temos hoje (economicamente, politicamente, socialmente e moralmente) e vamos pagar o preço ainda pelo menos por uma geração.

"Infelizmente, quando falam proteger "a família" não é a nossa. Quando falam em Jesus, não é o nosso Jesus e nossos princípios cristão."

        Não temos a bastante tempo um Ministro da Educação, da Cultura, da Saúde, do Trabalho, da Juventude e com isso não temos uma política  de Estado voltada para a maioria da população pobre das periferia. É esse o país que você deseja que continue? Faz sentido, em nome do "combate a corrupção" negar saúde, trabalho, educação e futuro aos nossos jovens e aceitação  da OMISSÃO dos atuais gestores.

 "Vá, mude o seu voto e não precisa contar a ninguém." 

        Vamos refletir: O que estamos fazendo aos nossos filhos quando legitimamos uma atitude tão descompromissada dos gestores que ocuparam altos cargos públicos e que deveriam nos representar de verdade e não com discursos vazios e de ódio. Infelizmente, quando falam proteger "a família" não é a nossa. Quando falam em Jesus, não é o nosso Jesus e nossos princípios cristãos. 

        Basta! Feche a jaula e tranque aquele "animal" que existes em cada um de nós.

Passeata - "Ele não". Praça do Derby, Recife/PE. 29/09/2018

        Não destrua mais nosso país permitindo que o discurso de ódio e desprezo ao próximo seja algo "normal". Vá e, a partir do seu voto faça valer um Brasil que realmente deseja que seja construído para os milhões de jovens. Vá, mude o seu voto e não precisa contar a ninguém. Vamos voltar a acreditar na Ciência, respeitar a religiosidade de cada um, respeitar a opção sexual de cada indivíduo, lutar para que uma postura autoritária não seja legitimada jamais ou que palavras em nome de Deus não sejam ditas em vão para consolidar projetos pessoais ou de grupos "pseudos-religiosos".

Reflita. 

    Mude o seu voto pensando no país que você deseja realmente deixar para cada jovem que hoje está ao seu redor. Afinal, o país que nossos pais e avós acreditavam e que "entregaram" para nós mas começamos a "tentar destruir". Porém, é possível fazermos diferente.

Soltamos, soltamos "a fera" que existia lá dentro de nós e que mantínhamos  sob controle por longo e logos anos.

        Agora caberá você aprisioná-la (a fera). Feche a jaula e tranque aquele "animal" que existe em cada um de nós.

        Obrigado pela leitura, pelo diálogo tranquilo entre nós e um bom e reflexivo voto para todos!


Cícero Souza

Pesquisador 
Professor  ETE - Ginásio Pernambucano
(Governo do Estado de Pernambuco - SEE)
Mestre Ciência da Educação (Universidade Lusófona Humanidades Tecnologia -ULHT- Lisboa/Portugal)

Doutorando Ciência da Educação (Universidade Nacional de Rosario - UNR/ Argentina)


 

Um comentário:

  1. Estamos saindo de um período obscuro da vida política brasileira atual. Destarte,a democracia voltará a triunfar para reverenciar àqueles que lutaram durante o regime de exceção pós 1964,e sobretudo por todos os que lutam no momento atual, pra decretar o fim desse clima de ódio e autoritarismo que se instalou no país nesses últimos anos....Viva a democracia brasileira!

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