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terça-feira, 6 de setembro de 2022

200 anos e uma independência ainda a ser contada.

                                                

                                                      Revista Nossa História. nº11, setembro/2004

"200 anos de independência é o momento certo para repensarmos os "Brasis" que recebemos e principalmente o país que desejamos deixar como heranças para nossos filhos e netos."

        Hoje é feriado nacional mas, bem verdade dizer que não é um feriado festivo como outros anteriores que marcaram o dia 7 de Setembro, afinal, vivenciamos agora 200 anos de um momento histórico que foi contado mas ainda pouco recontado. Na verdade, para nós pernambucanos tudo começou ainda em 2017 quando comemorávamos os 200 anos da verdadeira revolução brasileira ocorridas aqui (Revolução Pernambucana 1817), movimento por sinal, amargamente sufocado pela corte Joanina que reinava na capital instalada no Rio de Janeiro desde 1808.

"afinal, vivenciamos os 200 anos de um momento histórico que foi contado mas ainda pouco revisitado."

   Mas, vamos focar visando refletir o momento em que comemoramos 200 anos do grito lançado por D. Pedro I as margens do riacho do Rio Ipiranga? Se a nossa independência ainda precisa ser recontada (refletida) a figura principal que marca todo episódio é demais remexida por interpretações aqui no Brasil e em terras lusitanas. 

    Ao pensar seus patrícios presentes na nossa historiografia o pesquisador português Pedro de Almeida Vieira (Assim se pariu o Brasil, 2015) destaca que - "Pode-se arriscar dizer que o Brasil dificilmente seria hoje uma  nação unificada  federativa se não fosse dois homens do século XIX: o rei português D. João VI e os seu primeiro imperador, D. Pedro I." (p.305). Mas, quando se trata de abordar o processo de independência brasileira na ótica de Portugal não evita afirmar que "Um português meter-se com a história do Brasil colonial, ainda que vá que não vá - ou até tudo bem; agora na História do Brasil independente, já seria meter o bedelho onde não se foi chamado" (p.322).

                                               

                               Assim se pariu o Brasil. Ed. Saída de Emergência, Lisboa - 2015.

"A transformação do sete de setembro em data nacional só aconteceu a partir de 1870 reflexo da consolidação do Estado nacional.."

       Pois bem, estudiosos na Europa percebem a delicadeza do tema  e se "reservam" tomar qualquer posição cabendo a cada um de nós brasileiros pesquisarmos, fazermos leituras e apresentarmos um melhor entendimento de momento tão crucial para entendermos o que somos e porque somos exatamente o Brasil atual.

        Historicamente, a partir de estudos dos mais variados campos de pesquisa já é compreendido que - "A transformação do sete de setembro em data nacional só aconteceu a partir de 1870 reflexo da consolidação do Estado nacional e o crescimento da importância política e econômica de São Paulo." (Nossa História, set/2004, p.17) e o uso que se tenta fazer atualmente reflete mais uma leitura pautada no mero simbólico" para fins "partidários e negacionista" do que possibilitar um melhor entendimento ao que ainda precisamos quanto fatores e consequências do ato de D. Pedro I e da elite brasileira que administravam politicamente o Brasil. .

        Quais questões atualmente vivenciamos e lutamos tantos por uma superação? Educação, distribuição de renda, patrimonialismo da máquina pública, altos impostos, machismo, racismo, violência de gênero, problema habitacional, subemprego e trabalho análogo a escravidão são alguns pontos que lutamos a muito mais de 200 anos e que foram pontos alguns desses  ideário iluminista propagados pelas revoluções liberais europeias do século XVIII (especialmente, a Revolução Francesa de 1789) e bateram forte aqui em Pernambuco.

"A independência de 1822 rompeu a concentração agrária que portugueses e principalmente brasileiros ainda concentravam?"

        A independência de 1822 rompeu a concentração agrária que as elites de portugueses e principalmente brasileiros ainda concentravam? O "mito" D. Pedro I precisa mesmo ser preservado exatamente como alguns desejam ou deve sim ser "revirado"? Afinal, ao trazer o coração do príncipe tentam consolidar uma história que não existiu em terras brasilis.

                                              

                                                            Revista de História, nº 62, nov. 2010

        200 anos de independência é o momento certo para repensarmos os "Brasis" que recebemos e principalmente o país que desejamos deixar como heranças para nossos filhos e netos. Outros duzentos anos virão, mas, será valioso que em nossas casas, trabalho, nas ruas e principalmente nas bancas escolares possamos iniciar estudo dos 2001, 2002, 2003 anos de independência que desejamos realizar.

        Assim, a proposta de hoje é que valorizemos sim momento tão importante mas, acima de tudo que possamos ler um pouco mais, refletir e compreender como todo processo foi construído. 

        Cabe a História trazer ao nosso conhecimento principalmente os personagens "invisíveis" que em muitos casos foram "usados" e depois descartados. Como também, entender os motivos da tamanha desigualdade e uso da máquina pública em benefício de algumas famílias enquanto milhares de brasileiros não fazem nem ao menos uma única e digna refeição.

Revista Nossa História. nº11, setembro/2004

"Nas favelas, no Senado sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a Constituição mas todos acreditam no futuro da Nação. Que país é esse? (Legião Urbana. Que país e esse?)


Fontes consultadas/indicadas:

Carvalho, José Murilo. Formação das almas. Cia. das Letras, 2004.

Faoro, Raimundo. Os donos do poder - Formação do patronato político brasileiro. Ed. Globo, 2004.

Russo, Renato. Que país é esse? - Legião Urbana, 1987.

Vieira, Pedro de Almeida. Assim se pariu o Brasil. Ed. Saída de Emergência, Lisboa - 2015.

Wehling, Arno. Formação do Brasil colonial. Ed. Nova Fronteira,  1994.

Revista Nossa História. nº11, setembro/2004, p.11 a 37.

Revista de História, nº 62, nov. 2010.


Cícero Souza

Pesquisador 
Professor  ETE - Ginásio Pernambucano
(Governo do Estado de Pernambuco - SEE)
Mestre Ciência da Educação (Universidade Lusófona Humanidades Tecnologia -ULHT- Lisboa/Portugal)

Doutorando Ciência da Educação (Universidade Nacional de Rosario - UNR/ Argentina)







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