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sábado, 13 de março de 2021

Como naturalizamos a exploração.

Estamos em pleno ano de 2021 e nada parece fácil. Vivenciamos uma pandemia sem precedentes onde os números dizem intensamente o que está acontecendo, uma realidade fora do controle das instâncias públicas (federal, estadual e municipal), da população em geral que resiste atender as medidas de isolamento uma vez que dessa forma até mesmo estas pessoas ficam mais isoladas da necessária proteção do Estado (casos pontuais). Por outro lado, temos um grupo maior que em nome do individualismo contribui ao total de 273.184 mortes pelo covid-19 em todo Brasil e, um quase esgotamento, dos leitos de UTIs nas unidades hospitalares.

Mas, dos vários profissionais que atuam nos serviços essenciais temos os que trabalham no transporte público numa quase que total desproteção pois, além de estarem em contato direto com a população usuária de coletivos aqueles também enfrentam outros tantos descasos que poderíamos iniciar listando: por estarem em veículos sem praticamente qualquer higiene seja para o usuário de transporte público ou mesmo aqueles condutores que passam muitas vezes 12h de trabalho e refém de uma cidade que muitas vezes chega a exalar além de odores um calor de até 38 graus.

Fonte: Panfleto de protesto fixado em prédio da avenida Guararapes (Centro do Recife) - registro do autor.

No entanto, ao cruzarmos a cidade é possível percebermos algo muito mais desumano, vemos e até naturalizamos a exploração absurda que os motoristas dos transportes públicos sofrem para realizar suas atividades diárias. Você usuário, já percebeu que aquele profissional que conduz você ao seu destino não é mais apenas o motorista, ou seja, aquele a quem caberia sua segurança em trajeto que se propõe a fazer? Não é!

Hoje, um trabalhador do transporte coletivo ele conduz o veículo; cobra e conta a passagem; opera o elevador dos ônibus e ainda precisa ter total atenção a quem desce lá na porta traseira. Percebia? Talvez não, afinal, naturalizamos a exploração e assim a vida segue.

      É muito estranho como tudo está sendo "desmontado" ao que era realizado em passado bem recente (até anos 1950) quando havia uma cidade em crescimento e as empresas dinamizavam seu trabalho contratando cobradores como uma maneira de ter um serviço mais seguro e de mais qualidade (rentável também). Porém, em nome da tecnologia máquinas de leitura de cartão foram instaladas, prometeram (e até iniciaram) ar-condicionado nos ônibus mas ficou tudo na mera promessa como justificava ao aumento constante das passagens. Hoje, os veículos oferecidos (parte das linhas) são sujos, mal conservados e para agravar temos motoristas estressados e "obrigado" a desempenhar várias funções para assim viver longe da sombra do desemprego e alguns para garantir quem sabe um acréscimo a mais no salário no valor de R$-300,00, continuando porém com a obrigação de arcar com total prejuízo em caso de assalto que venha a sofrer no veículo ou dano material ao ônibus.


                                  Fonte: imagem meramente decorativa ao texto - registro do autor.

Muito triste o que estamos vivenciando e legitimando de alguma maneira. Qual o papel dos poderes públicos? A Justiça do Trabalho legitima a situação? O Consórcio Grande Recife acompanha e zela pelo bem do serviço prestado a população? E a classe desses trabalhadores, seus familiares e a população em geral o que pensam?


Cícero Souza - Professor e Historiador.

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