"....a falta de limites claros em relação ao uso de tecnologia acabará por promover sujeitos sofredores de intensa dor social, pois desprovidos de habilidades sociais essenciais, tais como a empatia e a comunicação interpessoal, à mercê de uma cada vez mais crescente solidão."
Nos dias atuais as redes da tecnologia informatizada nos trazem milhões de informações diárias, prontas para o deguste do freguês. É a diversão da moda, do papai até mesmo ao bebê que já se entretém com as cores, movimentos e sons, insights irrecusáveis na batalha contra o tédio existencial. Isso mesmo: a atualidade nos causa tédio; o que necessitamos mais? O que buscamos mais para a nossa satisfação? Quase nada! temos um cardápio pleno ao nosso alcance...mas o prato de entrada – mesmo a sobremesa – ainda é o tédio.
Alguns neste público talvez ainda lembrem quando a velha TV
preto & branco anunciou, em estridente som do “e-x-t-r-a-o-r-d-i-n-á-r-i-o”,
sobre a chegada do homem à Lua. A conquista estava completa e não mais se
restringia aos namorados, que já se divertiram tanto na inocência do esconde-esconde, do pula-corda, das bolas de gude,
dos assustados com muito iê-iê-iê e cuba libre! ...Ops, Marte prova que não, que não completou-se ainda
a saga humana que o mito do Sísifo revelara. Muita pedra ainda para carregar
até o cume do monte da satisfação e ainda mais paciência para vê-la rolar
colina abaixo. E haja tédio!!!...
"O porão da família se fecha ante a pressão social e as demandas do cotidiano pela procura constante do prazer.."
Pois bem, montamos, assim, um brevíssimo retrato da atualidade humana
sobre este monte de terra que a Terra ainda detém. O verme ainda passeia na lua
cheia... – lê-se nas “Flores Astrais” do inesquecível Secos & Molhados
dos turbulentos anos 70 – mas já não encontra tempo para admirá-la. Não há mais
ideias, mas repetições. Não há mais desafios, mas desarranjos, num vale-tudo na
busca pelo novo. Os pais escasseiam na complexa e multifacetada mediação sobre
a dinâmica familiar; para lembrar Belchior na sua “Hora do Almoço”, no centro da sala, diante da mesa/ a gente
se fala, se toca e se cala e se desentende no instante em que fala/ Cada um
guarda mais o seu segredo/ sua mão parada, lacrada e selada...
O porão da família se fecha ante a pressão social e as demandas do cotidiano pela procura constante do prazer, a Era Dopamina que a Geração Z refina em nome dos Millennials, na reorganização das expectativas a serviço da novíssima geração Alfa. Inauguramos uma sociedade de toda conectada e ainda assim alheia ao que acontece ao nosso redor.
"No aspecto emocional, o uso inadequado de redes sociais pode levar a problemas de autoestima e ansiedade. Por fim, a superexposição a conteúdos inadequados pode prejudicar o desenvolvimento social e emocional das crianças, emaranhadas em caminhos distorcidos."
E então nos vemos, todos, vulneráveis ao consumo excessivo e à compulsão numa busca desesperada pelo prazer, gerando mais sofrimento do que felicidade. Essa sensação momentânea de prazer pode incentivar comportamentos repetitivos, levando ao que muitos chamam de "dependência digital". Além disso, o sedentarismo associado ao tempo de tela elevado contribui para o aumento da obesidade infantil. No aspecto emocional, o uso inadequado de redes sociais pode levar a problemas de autoestima e ansiedade.
Por fim, a superexposição a conteúdos inadequados pode prejudicar o desenvolvimento social e emocional das crianças, emaranhadas em caminhos distorcidos na busca por pequenas doses de dopamina, resultando em um padrão de comportamento que prioriza a interação virtual em detrimento das relações reais. No aspecto psicológico, este movimento tresloucado engatilha as faturas concentradas em transtornos relacionados a ansiedade, depressão, medo, tristeza e desesperança, promovendo acessos inadequados a conteúdos que lá estão senão para impactar negativamente o comportamento e formação de valores nas crianças.
Ficará, então, pronto o caldo da geração ansiosa: uma infância
hiperconectada e desesperada ante uma epidemia de transtornos mentais. O prazer
instantâneo proporcionado pelas telas pode dificultar a capacidade de desfrutar
de atividades que não oferecem recompensas imediatas, como hobbies, exercícios
físicos ou interações sociais mais profundas, de onde se conclui que a falta de
limites claros em relação ao uso de tecnologia acabará por promover sujeitos
sofredores de intensa dor social, pois desprovidos de habilidades sociais
essenciais, tais como a empatia e a comunicação interpessoal, à mercê de uma
cada vez mais crescente solidão.
Nessa escalada incontrolável de abandono, restará aos vindouros apenas uma vitrola, num canto da sala, ouvindo Ivan Lins num soluço “Aos Nossos Filhos”: Perdoem a falta de abraço; perdoem a falta de espaço, a falta de folhas, a falta de ar ...perdoem a falta de escolha...os dias eram assim!!!
Para assistir:
João Montarroyos.
Psicólogo clínico, especilista em Terapia Comportamental.
Ex. professor das redes pública/privada e Historiador.
Ex-Secretário de Educação municipal em SE.
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