01 de abril de 1964 a 01 de abril de 2021, temos hoje a marca de 57 anos da implementação da DITADURA CIVIL-MILITAR no Brasil fato que por sua vez deixou marcas até nossos dias atuais. Nos últimos 40 anos muitos pesquisadores buscaram levantar o que foi esse momento na história brasileira, quem participou para seu "sucesso" financiando, delatando, torturando ou em outros casos trabalhando nos bastidores e elaborando uma legislação cada vez mais restritiva como o AI- 5 imposto em 1968.
Por sua vez, outros especialistas trataram de investigar o papel da repressão (DOPS-PE), de políticos, sindicatos, da Igreja Católica e Protestante. Diante amplitude de pesquisas (teses, dissertações e livros publicados) e bastante conhecido do grande público trago nesse momento um "outro olhar" e que carece ainda de uma melhor investigação; trato do papel da escola e da legislação organizada pelo aparelho estatal visando manter controle e evitar qualquer possibilidade de uma reação partindo do aparelho ideológico sob seu controle. Nesse tempo professores, alunos, pais e toda comunidade apesar da "aparente liberdade" passavam a ser e ter seus passos minimamente vigiados ou reprimidos (quando necessário).
Assim, o que temos e o que somos quando pensamos espaço escolar só será possível compreender buscando conhecer a nossa própria história e não nos prendermos ao "mero negacionísmo".
Trago nesse momento pequenos fragmentos da minha dissertação defendida em 2016 intitulada "Retrato de professores: Associativismo docente em Pernambuco - 1979/1982" e espero despertar uma curiosidade para leitura de um período da nossa história que precisa ainda ser minuciosamente estudado.
Agradeço aos participantes (professores entrevistados, jornalistas e funcionários de instituições que apoiaram estudo), a minha orientadora Dra. Maria das Graças Ataíde de Almeida e aos leitores que a cada pergunta nos estimulam a buscarmos respostas e resgatar quem realmente somos.
Obrigado.
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"A partir da análise do acervo montado pelo DOPS/PE foi possível fazermos um resgate da mobilização docente deflagrada em Pernambuco entre as décadas de 1950 e 1960. Quando buscamos fazer uma análise dessa documentação, constatamos que a vigilância policial se fazia presente não apenas junto aos professores que assumiram o movimento grevista, bem como, todo aquele que colocasse em pauta problemas que afetavam o conjunto da categoria docente e o descaso do governo para solucionar as questões," (Souza, Cícero. 2016, p.34)
"Temos, a partir de fragmentos do cotidiano de vida de três professores um contraponto ao discurso oficial produzido pelo Estado. Esse ponto de desconstrução encontram-se presente quando: a professora Luci Machado registra o excesso de alunos nas salas de aula, a dificuldade de obter material didático no local de trabalho, tendo que levar o seu próprio; a professora Helena Lopes, que por mais de uma década exerceu a função de diretora escolar destaca as condições em que recebeu a escola para desenvolver seu trabalho, como também ausência de qualquer trabalho ou projeto pedagógico junto aquela comunidade; Já a professora Francisca Florentina “Morena” resume todo um conjunto de dificuldade que identificara nas escolas em que visitou como integrante do movimento sindical do qual participava a partir do novo grupo que assumira à APENOPE." (Souza, Cícero. 2016, p.185)
"Quanto à organização ambiente escolar, a sociedade passava a conhecer a partir dos Relatórios oficiais um ambiente limpo, disposição de material didático, alunos dentro de um quantitativo propício ao ensino de qualidade. Nada próximo ao que ficou registrado nas memórias das docentes que de alguma maneira representavam desejos e angústias das várias “Helenas, Lucis, Porpinos ou mesmo Morenas” (Souza, Cícero. 2016, p.185)
Fonte: Relatório da Secretaria
de Educação de Pernambuco /1979-1982.
Governo do Estado de Pernambuco. /SE-PE. 1982, p.32. Acervo da Biblioteca
Pública do Estado de Pernambuco/BPE.(Souza, Cícero. 2016, p.94)
"O Estado ao tentar mostrar ser homogêneo todo ambiente escolar (área rural e urbana), padronizando realidades dos professores, colocando alunos de uma unidade escolar distante como imagem de um conjunto do Sistema de Ensino a Secretaria de Educação de Pernambuco busca na verdade construir, a invisibilidade dos professores da Rede Oficial de Ensino. Por outro lado, muitas vezes essa postura acaba sendo traída pelo próprio contraste das imagens quando apresentadas diante uma mesma atividade exigida no currículo escolar." (Souza, Cícero. 2016, p.191)
Fonte:
Souza, Cícero. Retrato de professores: Associativismo docente em Pernambuco - 1979/1982. Universidade Lusófona, Lisboa/Portugal,2016.
Cícero Souza
Professor da rede pública de ensino /SEE-PE
Mestre Ciência da Educação - ULHT - Lisboa/Portugal.
Doutorando Ciência da Educação - UNR/ Argentina.
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