"Quantos amigos perdi, quantas pessoas "matei" ao proferir palavras fedidas, ao destilar um ódio que não sabia existir em mim."
Hoje desejo apenas refletir e entender como chegamos enquanto sociedade até aqui e principalmente na situação que se apresenta. Soltamos "a fera" que existia lá dentro de cada um de nós e que mantínhamos sob controle por longo e longos anos. Quantos amigos perdi, quantas pessoas "matei" ao proferir palavras "fedidas" ou, ao destilar um ódio, que não sabia existir em mim. Mas, quando e como tudo começou?
Entre os anos de 1964 a 1985 meus pais, avós e outros parentes viveram um tempo sombrio em que grupos de militares (Forças Armadas) aliados a pequenos grupos de empresários "ocuparam postos de comando" do país e, em nome da democracia, impetraram medidas econômicas, políticas, sociais e principalmente repressivas. Meus pais vivenciaram cada momento e viram "sair das jaulas" trogloditas que "guardados" sob a tutela do Estado usaram de atrocidades que ficaram marcadas nas mentes, corpos e porque não dizer também arquivadas nos acervos de documentos da repressão sob guarda do próprio Estado.
"nunca deixaram que a "fera" indomável ganhasse força para agir pautada na maldade;"
Meus pais viram e viveram mas nunca deixaram que a "fera" indomável ganhasse força para agir pautada na maldade contra o seu próximo; eles mudaram uma ordem de um Brasil e buscaram entregar para mim uma sociedade melhor sem matar (mesmo metaforicamente) seu vizinho, seu parente ou ao seu amigo.
1984 o movimento "Diretas já" ganhava as ruas e mesmo com a derrota da Emenda Dante de Oliveira o Brasil voltou ao processo democrático e os generais-ditadores que ao longo dos 21 anos que ocuparam todas as esferas das instituições "deixaram" o país respirar (pelo menos imaginava assim até termos o cenário atual). Meus pais receberam um Brasil mergulhado numa inflação galopante, educação deteriorada, segurança quase esgotada mas, meus pais resistiram e dominaram o "animal" que existia dentro de si. Feche a jaula e tranque aquele "animal"
"O ódio e os interesses pessoais daqueles que ocupam o poder estimulam atos de violência física ou mesmo verbal, jornais publicam caos e assassinatos.."
Entre os anos de 1989 a 2002 o Brasil vivenciou vários pleitos eleitorais dos quais, em todos eles, eu disse em todos eles contou com a presença da Esquerda contra a Direita e nunca tivemos qualquer acontecimento marcado por violência extremada ou estímulo para atos semelhantes. O pleito de 2002, do qual a Direita (na época PSDB) perdeu, o processo foi perfeito chegando o momento em que o presidente derrotado (Fernando Henrique - PSDB) passou a faixa ao seu opositor e agora presidente eleito (Luiz Inácio Lula da Silva - PT). Em 2002 foi assim e não ocorreu um único episódio grave de violência física e a tão esperada transição entre os líderes foi perfeita e pautada na melhor contribuição para todo os brasileiros.
E hoje, a que ponto chegamos?
O ódio e os interesses pessoais daqueles que ocupam o poder estimulam atos de violência física ou mesmo verbal, jornais publicam caos e assassinatos e no dia-dia as pessoas não conseguem mais conversar ou no mínimo ouvir e respeitar a opinião do próximo. A que ponto chegamos!
Exatos quatro anos que a intolerância ganhou dimensão e lugar cativo nas ruas, nos lares, nas escolas, nos espaços de trabalho e lazer. A que ponto chegamos!
"Não temos a bastante tempo um Ministro da Educação, da Cultura, da Saúde, do Trabalho, da Juventude e com isso não temos uma política voltada para a maioria da população pobre das periferia. É esse o país que você deseja que continue?"
Nas próximas horas vamos nos dirigir até as locais de votação para eleger "nossos representantes" (será que nos representam?) e precisamos refletir qual modelo de sociedade e civilidade desejamos deixar aos nossos filhos. Ódio, intolerância, desrespeito as mulheres, ao saber científico e a fé não pode e não devem ser heranças que marquemos aos nossos filhos e demais jovens. Feche a jaula e tranque aquele "animal".
Triste perceber jovens de 16 anos verbalizando um discurso "doentio" que nossos pais e avós ouviram passados mais de 60 anos. Somos responsáveis pelo país que nossos jovens vivenciam hoje. Foi nossa intolerância, arrogância, revanchismo e despolitização que colocou nas costas de uma juventude atual o Brasil destruído que temos hoje (economicamente, politicamente, socialmente e moralmente) e vamos pagar o preço ainda pelo menos por uma geração.
"Infelizmente, quando falam proteger "a família" não é a nossa. Quando falam em Jesus, não é o nosso Jesus e nossos princípios cristão."
Não temos a bastante tempo um Ministro da Educação, da Cultura, da Saúde, do Trabalho, da Juventude e com isso não temos uma política de Estado voltada para a maioria da população pobre das periferia. É esse o país que você deseja que continue? Faz sentido, em nome do "combate a corrupção" negar saúde, trabalho, educação e futuro aos nossos jovens e aceitação da OMISSÃO dos atuais gestores.
"Vá, mude o seu voto e não precisa contar a ninguém."
Vamos refletir: O que estamos fazendo aos nossos filhos quando legitimamos uma atitude tão descompromissada dos gestores que ocuparam altos cargos públicos e que deveriam nos representar de verdade e não com discursos vazios e de ódio. Infelizmente, quando falam proteger "a família" não é a nossa. Quando falam em Jesus, não é o nosso Jesus e nossos princípios cristãos.
Basta! Feche a jaula e tranque aquele "animal" que existes em cada um de nós.
Reflita.
Mude o seu voto pensando no país que você deseja realmente deixar para cada jovem que hoje está ao seu redor. Afinal, o país que nossos pais e avós acreditavam e que "entregaram" para nós mas começamos a "tentar destruir". Porém, é possível fazermos diferente.
Soltamos, soltamos "a fera" que existia lá dentro de nós e que mantínhamos sob controle por longo e logos anos.
Agora caberá você aprisioná-la (a fera). Feche a jaula e tranque aquele "animal" que existe em cada um de nós.
Obrigado pela leitura, pelo diálogo tranquilo entre nós e um bom e reflexivo voto para todos!
Cícero Souza