Hoje é feriado e para você talvez não tenha tanta importância afinal vivendo em tempos tão turvos de pandemia e diariamente viver as incertezas de quando tudo isso vai parar, uma vez que, por um lado não suportamos mais contabilizar dimensão da quantidade de vítimas ou mesmo a lentidão por parte dos governos, principalmente federal, de articular um trabalho conjunto e uma campanha nacional de vacinação.
Mas, para entender que país é esse ou que país "fazemos nascer" a cada dia será importante um breve mergulho na história e também compreender a formação dos "mitos e lideres" no campo do poder. É nesse horizonte que temos o dia 21 de abril como marca de um feriado nacional e a reverência a uma figura (de imagem incerta) mas que simboliza a ideia de uma "identidade nacional".
"Depois de um julgamento de fachada, seis acusados foram condenados à forca. Tiradentes foi o bode expiatório. Outros cinco receberam clemência e foram banidos para Angola. Tiradentes foi levado ao cadafalso em 21 de abril de 1792. Após ser enforcado, foi decapitado e teve a cabeça exibida numa estaca de Ouro Preto. (Skidmore, p.54)
FONTE:http://dombarreto.g12.br/portal/tiradentes-o-21-de-abril-e-a-construcao-de-uma-identidade-nacional/
"Mesmo expulsos do Brasil, alguns inconfidentes conseguiram construir suas vidas com sucesso.Tomás Antonio Gonzaga foi condenado ao degredo em Moçambique, mas recebeu tratamento especial: ficou hospedado na casa do Ouvidor." (Rodrigues, André. p. 24, 2011).
Fonte: Revista Nossa História. 2005, nº18, p.43
"A trajetória desses personagens prova que o degredo não foi drástico para todos os inconfidentes, como conta nos livros. Para alguns, ele foi o estopim para uma retomada de suas vidas." (Rodrigues, André, p. 25, 2011).
Dessa forma, quase cem anos depois, em plena República, a figura de um "mártir" é consolidada para legitimar um regime que surgia e para "unir" tantos brasileiros em nome de uma única causa.
Pensar nossos heróis é acima de tudo fazermos perguntas sobre suas trajetórias; não apenas o motivo de terem fim tão trágicos, mas, a partir da história saber porque estavam ali e quais interesses tinham. Pensar historicamente Tiradentes é saber também que depois de sua prisão e devassa se descobriu que aquele homem (que a História construiu como pobre) possuía bastante posses para a época. Você sabia?
Pois bem, segundo historiadores "o cidadão" Joaquim da Silva Xavier era dono: de sítios, várias cabeças de gado, explorava cerca de 43 jazidas, ocultando a maioria dos bens (como faziam homens da elite local) da Coroa portuguesa para não pagar os impostos devidos. No entanto, ficou o mártir TIRADENTES, um homem pobre que simbolizava novos tempos da República que nascia.
FONTE: https://www.todamateria.com.br/fernando-collor/
FONTE: https://escola.britannica.com.br/artigo/Luiz-Inácio-Lula-da-Silva/483342
FONTE: https://www.contatoonline.com.br/produtores-rurais-declaram-apoio-ao-presidente-bolsonaro/
Portanto, pensar 21 de abril não consiste apenas saber que um "homem pobre" foi enforcado, que ele lembra Jesus (e, há uma explicação histórica para essa semelhança) mas é demais importante principalmente entender que país estamos ajudando a construir. Afinal, saber qual modelo de sociedade desejamos. Deixemos os MITOS da política vagarem na escuridão e possamos trazer para a plena claridade melhores condições para a maioria da população.
Se você já tem sua renda e estrutura garantida está na hora de deixar de negar a importância de fazer política e lutar para que possamos ter um país melhor e nunca forjado em figuras que vão ocupar o poder, "sangrar nossos recursos" e usar de uma retórica salvacionista. Como vimos, TIRADENTES, ele possuía muito gado. Porém, o mais importante nesse feriado é participar para fazer um país mais justo para realmente quem precisa e mostrar principalmente que "NÃO SOMOS GADO".
"Será que valeu a pena tudo isso para pagar um salário de fome às empregadas domésticas e não ver mais pobres nos aeroportos, nos shopping centers e, principalmente, nas universidades? Afinal a educação, a saúde e a previdência, agora sucateada pelo Estado capturado, abrem caminho para que essas áreas se tornem o novo negócios dos bancos, que controlam agora crescentemente essas áreas também." (Souza, Jessé. p.234, 2017)
Fontes consultadas:
1- A elite do atraso: Da escravidão à Lava Jato. Souza, Jessé. 2017, ed. Leya.
2- Uma História do Brasil. Skidmore, Thomas. 2003, ed. Paz e Terra.
3- Revista de História da Biblioteca Nacional. 2011, nº 67.
4- Revista Nossa História. 2005, nº18.
Sites:
Cícero Souza
Professor/Historiador
Mestre ULHT/Portugal.